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Adultos com gordura no fígado têm 30% mais  risco de desenvolver diabetes tipo 2

Foto: Divulgação

Estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em parceria com cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), concluiu que adultos brasileiros que possuem esteatose hepática, popularmente chamada de gordura no fígado, têm 30% mais risco de desenvolverem diabetes tipo 2.

Por: Fernanda Bassette

 

A esteatose hepática é o acúmulo de gordura no fígado que pode, com o passar do tempo, causar uma inflamação crônica e danos no tecido hepático. Normalmente é uma situação benigna, mas sem cuidados e na sua evolução ela pode induzir à fibrose do fígado (substituição das células normais do fígado por tecido fibroso) e até evoluir para cirrose, inclusive com aumento de risco de câncer. Estima-se que o problema atinja ao menos 25% da população adulta – na amostra avaliada a esteatose estava presente em 35,5% dos voluntários.

 

A ultrassonografia abdominal é o  exame usado para a detecção da esteatose hepática, mas o diagnóstico também pode ser feito por outros exames de imagem, como tomografia e ressonância magnética, além de biópsia do fígado.

 

Como é o diagnóstico?

 

De acordo com a hepatologista, o ultrassom é o primeiro exame que vai apontar a presença da gordura do fígado. Mas, ao constatar o problema, outros exames devem ser realizados. “O ultrassom é um exame sensível, mas precisamos entender se esse paciente tem fibrose hepática, que é a cicatrização do fígado, além da gordura. É essa fibrose que vai determinar o prognóstico a médio e a longo prazo. Se a gordura for identificada no ultrassom, esse paciente precisa ser melhor investigado”, alertou a especialista.

 

A esteatose hepática é uma doença silenciosa e, por isso, é perigosa. Segundo a médica, em geral, o fígado não costuma dar sintomas de problemas quando ainda estão na sua fase inicial e com a esteatose não é diferente. “Não existem sinais específicos para a doença. O paciente terá sintomas quando a doença estiver numa situação de cronicidade, quando o fígado começa a dar sinais de falência. Geralmente, são sintomas que aparecem numa fase mais tardia da doença, que é tudo que precisamos evitar”, disse.

 

Assim, uma vez constatado o problema, é preciso tratar imediatamente. “É muito importante tratarmos essa inflamação precocemente para evitarmos a evolução para um quadro de falência hepática mais grave. O exercício físico é determinante para a diminuição da gordura visceral. Se nós tratamos o excesso de gordura (a adiposidade), conseguimos segurar a evolução dessa inflamação”, explicou o endocrinologista Clayton Macedo, que coordena o Núcleo de Endocrinologia do Exercício e do Esporte do Hospital Israelita Albert Einstein e o ambulatório de Endocrinologia do Esporte da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

 

Macedo ressaltou que os indivíduos avaliados tinham circunferência abdominal aumentada (que também é um fator de risco para diabetes), eram mais obesos, tinham mais dislipidemias e mais hipertensão. “Todos esses são fatores de risco importantes para o desenvolvimento de diabetes. Quem tem esteatose, provavelmente têm mais mecanismos de resistência à insulina, às vezes até alterações de outros fatores de risco, o que coabita o cenário de predisposição ao diabetes”, ponderou.

 

Segundo o endocrinologista, esses resultados são essenciais para o desenvolvimento de políticas de saúde específicas para esse público, para o planejamento estratégias de prevenção e de tratamento da esteatose hepática. Macedo explica ainda que existem algumas medicações que podem melhorar o acúmulo de gordura no fígado, mas nenhuma delas com indicação de bula – todas usadas off label.

 

Dieta e exercícios

 

“Hoje o tratamento padrão indicado é dieta e exercício físico. As medicações usadas tratam as doenças base [diabetes, obesidade, colesterol] e acabam melhorando, por consequência, a esteatose hepática. O recomendado é tratar as comorbidades, aliado a um estilo de vida saudável com atividade física e alimentação saudável”, destacou o endocrinologista.

 

Macedo reforçou também que atualmente a medicina está trabalhando com o conceito de MASH (metabolic steatohepatitis – esteatohepatite metabólica) – antes a nomenclatura mais usada era NASH (nonalcoholic steatohepatitis – esteatohepatite não alcoólica).

 

“Hoje a ciência tem trabalhado com o conceito MASH para mostrar que fatores metabólicos e não somente o álcool estão fazendo com que o fígado fique doente. A esteatose pode ser controlada, entrando em remissão. Conseguimos melhorar bastante o quadro com perda de peso, principalmente quando aliada à dieta e ao exercício físico”, finalizou.