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Pessoas com obesidade e alterações no IMC têm mais risco de ter câncer

Foto: Divulgacao

Não é de hoje que o sobrepeso e a obesidade têm sido relacionados ao aumento do risco de desenvolvimento de diversos tipos de câncer, como o de mama, colorretal, esôfago, próstata, fígado, entre outros.

No entanto, um novo estudo acompanhou mais de 135 mil pacientes ao longo de 21 anos e foi além: concluiu que pessoas com IMC (Índice de Massa Corporal) alto ou que aumentem o seu IMC ao longo da vida (especialmente na idade adulta) têm mais risco de desenvolver algum tipo de câncer, especialmente o gastrointestinal.

  Por: Fernanda Bassette

 

O IMC é um índice internacional usado há décadas como parâmetro científico para o cálculo de sobrepeso e obesidade, por meio de uma fórmula que se baseia no peso e na altura do paciente.

Segundo a regra, uma pessoa precisa ter o IMC entre 18,5 a 24,9 para ter o peso considerado normal; entre 25 e 29,9 para ser considerada com sobrepeso; e acima de 30, já é considerada um paciente com obesidade.

 

Durante os 21 anos de acompanhamento, 2.803 pessoas foram diagnosticadas com câncer colorretal e 2.285 desenvolveram outras neoplasias gastrointestinais (como câncer de esôfago, fígado e pâncreas, por exemplo).

Ainda segundo o estudo, a cada acréscimo de uma unidade no IMC ao longo da vida, houve um aumento de 2% a 4% no risco de câncer colorretal e outras neoplasias gastrointestinais.

 

De acordo com as estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca) para o biênio 2023-2025, quase 46 mil novos casos de câncer colorretal devem ser diagnosticados por ano no Brasil, representando um aumento de mais de 10% em relação à estimativa de 2020-2022. Nos Estados Unidos, por exemplo, entre os anos de 1998 e 2015, houve um aumento de 63% no número de casos de câncer colorretal.

 

Má alimentação

 

Segundo a oncologista Ana Paula Cardoso, do Hospital Israelita Albert Einstein, os mecanismos relacionados à obesidade e ao risco aumentado de câncer ainda não são completamente entendidos.

Ela afirma que existem algumas teorias para explicar a relação entre obesidade e câncer, entre elas a inflamação crônica e persistente do organismo da pessoa com obesidade, além de alterações na flora intestinal (desbiose), alterações metabólicas e imunológicas comuns relacionadas à obesidade, como uma alimentação ruim.

 

“A população tem consumido muito mais alimentos industrializados, ultraprocessados, com alto teor de açúcar e calórico. São produtos mais acessíveis, mais baratos, mas essa má alimentação tem como consequência a obesidade. Estudos anteriores já mostraram o aumento do risco de morte por câncer também na população com obesidade, comparado com a população com IMC normal e câncer”, disse.

 

De acordo com a oncologista, uma das informações mais importantes deste estudo é mostrar que a manutenção da obesidade ao longo da vida aumenta ainda mais o risco.   “A obesidade é um dos principais fatores de risco para o câncer colorretal. O que esse estudo traz de novo é mostrar que o risco é proporcional ao tempo de exposição. Por exemplo: quando você olha para a população com sobrepeso, existe um aumento de risco, mas ele não é tão grande como quando você olha para as pessoas com obesidade.

 

E da mesma forma quando você muda a faixa do IMC [de sobrepeso para obesidade, de obesidade para obesidade mórbida]. A manutenção da obesidade, assim como a mudança de peso e a faixa do IMC, aumenta o risco”, disse.

 

O estudo também mostrou que o uso regular de ácido acetilsalicílico (AAS), a aspirina, não modificou a associação entre o IMC e o câncer gastrointestinal. Assim, o resultado sugere que a obesidade pode alterar o efeito que o fármaco exerce de prevenção contra o câncer. De acordo com Cardoso, apesar de controverso, as evidências científicas mostram que uma baixa dose poderia ajudar a reduzir o risco de desenvolvimento de câncer colorretal em algumas populações específicas.

 

“A aspirina é um dos anti-inflamatórios mais antigos, mas também é um anticoagulante muito usado na cardiologia como prevenção de diversas doenças cardiovasculares. O que esse estudo sugere é que, muito provavelmente, a obesidade pode alterar o efeito preventivo conhecido da aspirina em relação ao risco de desenvolvimento de câncer porque ela perde a sua habilidade anti-inflamatória de proteção. Nesses casos, a dose indicada provavelmente deveria ser diferente”, explicou.